"Todos Temos Nossas Máquinas Do Tempo. Algumas Nos Levam Para Trás E São Chamadas De Memórias. Outras Nos Levam Para A Frente E São Chamadas De Sonhos."
Um Mergulho Fundo Demais -Parte 2
Essa sempre fora a coisa menos favorita de Luce de se ouvir. Equipamentos esportivos de todos os tipos tinham de jeito estranho de descontrolarem bem nela. Ela recuou, olhando para cima diretamente para o sol. Ela não conseguia ver nada e nem teve tempo de cobrir seu rosto antes de sentir um golpe contra a lateral de sua cabeça e ouvir um thwunk alto tocando em seus ouvidos. Ai.
A bola de futebol do Roland.
— Boa!
Roland gritou enquanto a bola viajava diretamente de volta para ele. Como se Luce tivesse tido a intenção de fazer isso. Ela esfregou sua testa e deu alguns passos vacilantes. Uma mão ao redor de seu punho. Uma faísca de calor que a fez arfar. Ela olhou para baixo para ver dedos brancos ao redor de seu braço, então para cima para os olhos cor de mel profundos de Justin.
— Você está bem? — ele perguntou.
Quando ela assentiu, ele levantou uma sobrancelha.
— Se queria jogar futebol, podia ter dito. Eu ficaria feliz de explicar alguns detalhes do jogo, como a maioria das pessoas usa partes do corpo menos delicadas para retornar um chute.
Ele soltou seu punho, e Luce achou que ele estava esticando a mão na direção dela, para acariciar o lado dolorido de seu rosto. Por um segundo, ela ficou parada lá, segurando sua respiração. Então seu peito desmoronou quando a mão de Justin afastou-se para escovar seu próprio cabelo para longe de seus olhos.
Foi quando Luce percebeu que Justin estava zoando dela.
E por que não deveria? Provavelmente devia haver uma impressão de uma bola de futebol na lateral de seu rosto.
Molly e Gabbe ainda encaravam – e agora Justin – com seus braços cruzados sobre seus peitos.
— Acho que a sua namorada está ficando com ciúmes — Luce falou, gesticulando para o par.
— Qual delas? — ele perguntou.
— Eu não percebi que ambas eram suas namoradas.
— Nenhuma é minha namorada — ele disse simplesmente. — Eu não tenho namorada. Quis dizer, qual delas achou que fosse minha namorada?
Luce estava estupefata. E quanto a toda a conversa sussurrada com a Gabbe? E quanto ao jeito que as garotas estavam olhando para eles agora? Justin estava mentindo? Ele estava olhando para ela de um jeito estranho.
— Talvez você tenha batido sua cabeça mais forte do que pensei. Vamos, vamos dar uma volta, respirar um pouco de ar.
Luce tentou localizar a piada depreciadora na última sugestão de Justin. Ele estava dizendo que ela era uma cabeça de vento que precisava de mais ar? Não, isso nem mesmo fazia sentido. Ela olhou para ele. Como ele podia parecer tão ingenuamente sincero? E bem quando ela estava se acostumando à rejeição de Bieber.
— Onde? — Luce perguntou cuidadosamente.
Porque seria fácil demais se sentir regozijada agora sobre o fato de Justin não ter uma namorada, sobre ele querer ir a algum lugar com ela. Tinha que ter uma pegadinha.
Justin meramente espremeu seus olhos para as garotas do outro lado do campo.
— Algum lugar onde não seremos observados.
Luce dissera a Penn que a encontraria na arquibancada, mas haveria tempo para explicar mais tarde, e é claro que Penn entenderia. Luce deixou Justin guiá-la pelo olhar examinador das garotas e pela alameda de pessegueiros parcialmente apodrecidos, nos fundos da antiga igreja-ginásio. Eles estavam vindo por uma floresta de carvalhos vivos lindamente retorcidos, que Luce nunca adivinharia que estavam escondidos lá. Justin olhou para trás para se certificar que ela estava acompanhando. Ela sorriu como se segui-lo não fosse nada demais, mas enquanto ela tomava seu caminho pelas velhas raízes nodosas, não conseguia evitar pensar nas sombras.
Agora ela estava entrando no bosque, a escuridão sob a grossa folhagem furada de vez em quanto por uma pequena coluna de luz do sol acima. O fedor de lama rica e úmida encheu o ar, e Luce repentinamente soube que havia água por perto.
Se ela fosse o tipo de pessoa que rezasse, seria agora que ela rezaria para as sombras ficarem distantes, simplesmente pela fatia de tempo que ela tinha com Justim, para que ele não tivesse que ver como ele ficava maluco as vezes. Mas Luce nunca rezara. Ela não sabia como. Ao invés, ela simplesmente cruzou seus dedos.
— A floresta se abre bem aqui — Justin disse.
Eles tinham chegado numa clareira, e Luce arfou estupefata.
Algo tinha mudado enquanto ela e Justin andavam pela floresta, algo mais do que simplesmente a mera distância da Sword & Cross colorida por calmaria.
Porque quando eles saíram das árvores e ficaram parados nessa pedra alta e vermelha, era como se estivessem parados no meio de um cartão postal, do tipo que girava ao redor de uma prateleira de metal de uma farmácia de cidade pequena, uma imagem sonhadora de um sul idílico que não existia mais. Cada cor em que os olhos de Luce caíam era brilhante, mais clara do que tinha sido há um momento. Do lago azul cristalino logo abaixo deles até a floresta esmeralda densa cercando-os. Duas gaivotas voando em inclinação no céu claro acima. Quando ela ficou na ponta dos pés, conseguiu ver o começo de um pântano salgado de cor marrom-amarelada, um que ela sabia que cedia para um oceano de espuma branca em algum lugar no horizonte invisível.
Ela olhou para cima para Justin. Ele parecia brilhante também. Sua pele estava dourada nessa luz, seus olhos ,claros. A sensação deles em seu rosto era uma coisa pesada e notável.
— O que você acha? — ele perguntou.
Ele parecia tão mais relaxado agora que estavam longe de todos os outros.
— Eu nunca vi algo tão maravilhoso — ela escaneou a superfície intacta do lago, sentindo a vontade de mergulhar. A cerca de quinze metros na água estava uma pedra larga, chata e coberta por musgo. — O que é isso?
— Vou te mostrar — Justin disse, chutando seus sapatos.
Luce tentou sem sucesso não encarar quando ele puxou sua camiseta pela sua cabeça, expondo seu torso musculoso.
— Vamos — ele disse, fazendo ela perceber como ela devia ter parecia enraizada no lugar. — Você pode nadar naquilo — ele acrescentou, apontando para sua regata seu short cinza. — Eu até te deixarei vencer dessa vez.
Ela riu.
— Contra o quê? Todas aquelas vezes que eu te deixei vencer?
Justin começou a assentir, então se parou abruptamente.
— Não. Desde que você perdeu na piscina no outro dia.
Por um segundo, Luce teve vontade de dizer a ele por que tinha perdido. Talvez eles pudessem rir sobre todo o mal-entendido da Gabbe-ser-sua-namorada. Mas então os braços de Justin estavam sobre sua cabeça e ele estava no ar, arqueando e então caindo, mergulhando no lago com um respingo perfeito.
Era uma das coisas mais bonitas que Luce já tinha visto. Ele tinha uma graça como nenhuma outra que ela já tinha testemunhado antes. Até mesmo o respingo que ele fizera deixou um toque adorável em seus ouvidos.
Ela queria estar lá com ele. Tirou seus sapatos e os deixou na margem da magnólia perto de Justin, então ficou de pé na beirada da pedra. A queda foi a cerca de sete metros, o tipo de mergulho alto que sempre fizera o coração de Luce pular uma batida. De um jeito bom.
Um segundo mais tarde, sua cabeça apareceu acima da superfície. Ele estava sorrindo, mantendo a cabeça acima d’água sem se mover.
— Não me faça mudar de ideia sobre deixar você vencer — ele chamou.
Tomando um fôlego profundo, ela mirou seus dedos sobre a cabeça de Justin e se empurrou em um alto mergulho de cisne. A queda durou apenas uma fração de segundo, mas era a sensação mais deliciosa, velejar pelo ar ensolarado, para baixo, baixo, baixo.
Splash. A água estava chocantemente fria no começo, então ideal um segundo mais tarde. Luce subiu à superfície para recuperar seu fôlego, deu uma olhada em Justin, e começou seu nado borboleta.
Ela se impulsionou tão forte que o perdeu. Ela sabia que estava se mostrando e esperava que ele estivesse observando. Ela ficou mais e mais perto até que sua mão bateu na pedra – um instante antes de Justin.
Ambos arfavam enquanto se rebocavam na superfície chata e aquecida pelo sol. Sua beirada era escorregadia por causa do musgo, e Luce teve dificuldade em se firmar. Justin não teve problema em escalar a pedra, contudo. Ele se esticou e deu-lhe uma mão, então puxou-a para cima para onde ela podia colocar uma perna sobre a lateral.
Quando ela se suspendeu completamente para fora da água, ele estava deitado de costas, quase seco. Só seu short revelava qualquer indício que ele estivera no lago. Por outro lado, as roupas molhadas de Luce prendiam em seu corpo, e seu cabelo estava pingando por tudo. A maioria dos caras teria agarrado a oportunidade de olhar provocativamente para uma garota pingando, mas Justin recostou-se na pedra e fechou seus olhos, como se estivesse dando-a um momento para se secar – por bondade ou por falta de interesse.
Bondade, ela decidiu, sabendo que estava sendo irremediavelmente romântico. Mas Justin parecia tão perceptivo, ele deve ter sentido pelo menos um tiquinho do que Luce sentira. Não só a atração, a necessidade de estar perto dele quando todos ao seu redor estavam dizendo-a para ficar longe, mas aquela sensação muito real de que eles conheciam – realmente conheciam – um ao outro de outro lugar.
Justin abriu seus olhos num estralar e sorriu – o mesmo sorriso da foto em seu arquivo. Um ataque de déjà vu a engolfou tão completamente que Luce teve que se deitar.
— O quê? — ele perguntou, soando nervoso.
— Nada.
— Luce.
— Não consigo tirar isso da minha cabeça — ela disse, rolando de lado para encará-lo. Ela não se sentia firme o bastante para se sentar ainda. — Essa sensação de que eu te conheço. Que eu te conheço faz tempo.
A água agitou-se contra a pedra, respingando nos dedos dos pés de Luce onde estavam pendurados na beirada. Estava fria e espalhou calafrios até suas panturrilhas. Finalmente, Justin falou.
— Já não passamos por isso?
Seu tom tinha mudado, como se ele estivesse tentando rir dela. Ele soava como um cara da Dover: satisfeito consigo mesmo, eternamente entediado, presunçoso.
— Estou lisonjeado por você achar que temos essa conexão, sério. Mas você não tem que inventar uma história esquecida para fazer com que um cara preste atenção em você.
Não. Ele achava que ela estava mentindo sobre essa sensação estranha da qual não conseguia se livrar como um jeito de dar em cima dele? Ela cerrou seus dentes, mortificada.
— Por que eu inventaria isso? — ela perguntou, espremendo os olhos na luz do sol.
— Você quem deve me dizer. Não, na verdade, não diga. Não fará bem algum. — Ele suspirou. — Olha, eu devia ter dito isso antes quando eu comecei a ver os sinais.
Luce se sentou. Seu coração começou a acelerar. Justin via os sinais também.
— Eu sei que te dei um fora no ginásio antes — ele disse lentamente, fazendo com que Luce se inclinasse para frente, como se ela pudesse extrair as palavras mais rapidamente. — Eu devia simplesmente ter te contado a verdade.
Luce esperou.
— Uma garota me magoou. — Ele balançou uma mão na água, arrancou uma folha de nenúfar, e a despedaçou em suas mãos. — Alguém que eu realmente amava, não há muito tempo. Não é nada pessoal, e eu não quero te ignorar.
Ele olhou para ela e o sol foi filtrado por uma gota de água em seu cabelo, fazendo-o brilhar.
— Mas eu também não quero que você tenha esperanças. Eu simplesmente não estou querendo me envolver com ninguém, não tão cedo.
Oh.
Ela desviou o olhar, para a água parada e azul-escura onde apenas minutos atrás eles estiveram rindo e respingando água. O lago não mostrava mais sinais daquela diversão. Assim como o rosto de Justin.
Bem, Luce tinha sido magoada também. Talvez se ela contasse a ele sobre Trevor e como tudo tinha sido horrível, Justin se abriria sobre seu passado. Mas, também, ela já sabia que não conseguia suportar escutar sobre o passado dele com outra pessoa. Pensar nele com outra garota – ela imaginou Gabbe, Molly, uma montagem de rostos sorridentes, olhos grandes, cabelos compridos – era o bastante para fazê-la se sentir nauseada. Sua história de término ruim deveria ter justificado tudo. Mas não justificava. Justin fora tão estranho com ela desde o começo. Mostrando-lhe o dedo do meio um dia, antes mesmo deles terem sido apresentados, então protegendo-a da estátua no cemitério no seguinte. Agora ele tinha trazido ela aqui no lago – sozinha. Ele era uma bagunça só.
A cabeça de Justin estava abaixada, mas seus olhos estavam encarando-a.
— Não é uma resposta boa o bastante? — ele perguntou, quase como se soubesse o que ela estava pensando.
— Eu ainda sinto como se houvesse algo que você não está me contando.
Tudo isso não podia ser explicado por um coração quebrado, Luce sabia. Ela tinha experiência nesse departamento.
As costas dele estavam voltadas para ela e ele olhava na direção do caminho que eles tinham tomado até o lago.
Após um instante, ele riu amargamente.
— É claro que há coisas que eu não estou te contando. Eu mal te conheço. Não tenho certeza do por que você achar que eu te devo alguma coisa.
Ele ficou de pé.
— Onde está indo?
— Tenho que voltar.
— Não vá — Luce sussurrou, mas ele não pareceu ouvir.
Ela observou, o peito pesando, enquanto Justin mergulhava na água. Ele ergueu-se distante e começou a nadar na direção da costa. Ele olhou de volta para ela uma vez, perto da metade e deu-lhe um aceno de adeus definitivo.
Então seu coração inchou enquanto ele circulou seus braços sobre sua cabeça num nado borboleta perfeito. Por mais vazia que ela se sentisse por dentro, ela não conseguia evitar admirar isso. Tão puro, tão fácil, mal parecia com natação.
Rapidamente ele alcançara a costa, tornando a distância entre eles parecer muito menor do que parecera para Luce. Ele parecera tão calmo enquanto nadava, mas não havia jeito de ele poder ter alcançado o outro lado tão rapidamente a não ser que ele realmente estivesse voando sob a água.
Era tão urgente para ele se afastar dela?
Ela observou – sentindo uma mistura confusa de envergonhamento profundo e até mesmo uma tentação mais profunda – enquanto Justin se suspendia de volta na costa. Uma coluna de luz do sol apareceu através das árvores e enquadrou sua silhueta com uma radiação brilhante, e Luce teve que espremer os olhos à visão perante seus olhos.
Ela se perguntou se a bola de futebol na sua cabeça tinha sacudido sua visão. Ou se o que ela achou que estava vendo era uma miragem. Um truque da luz do sol da tarde. Ela ficou de pé na pedra para dar uma olhada melhor.
Tudo que ele estava fazendo era chacoalhar a água de sua cabeça molhada, mas uma camada de gotículas parecia pairar sobre ele, do lado de fora dele, desafiando a gravidade em uma amplitude ampla ao longo de seus braços.
Do jeito que a água brilhava na luz solar, quase parecia que ele tinha asas.
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nova leitora amei continua
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